sexta-feira, 23 de julho de 2010

1916 - HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Um livro Dorling Kindersley
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Contribuições adicionais de texto por
Daniel Cardinal, Michael Lacewing e Chris Horner.
Produzido para DK por
Editores: Marek Walisiewicz, Kati Dye, Louise Abbott, Jamie
Dickson, Maddy King • Editores de arte: Paul Reid, Lloyd
Tilbury, Pia Ingham, Darren Bland, Claire Oldman, Annika Skoog
Capítulo Dois
A HISTÓRIA
DA FILOSOFIA
Os antigos 24
O mundo medieval 30
Os primeiros modernos 34
A Idade Moderna 40
Prefácio 10
Capítulo Um
INTRODUÇÃO
À FILOSOFIA
O que é filosofia? 14
Editor de projeto: Sam Atkinson • Designer de
projeto: Victoria Clark • Gerente de produção: Rita
Sinha • Composição eletrônica: John Goldsmid •
Editora-executiva: Debra Wolter • Editora-executiva
de arte: Karen Self • Diretor de arte: Bryn Walls •
Diretor editorial: Jonathan Metcalf
Título original: Eyewitness Companions: Philosophy
Copyright © 2007 Dorling Kindersley Ltd.
Copyright da edição brasileira © 2008:
Jorge Zahar Editor Ltda.
rua México 31 sobreloja
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Todos os direitos reservados.
A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo
ou em parte, constitui violação de direitos autorais.
(Lei 9.610/98)
Copidesque: Luciana Aché
Revisão tipográfica: Eduardo Monteiro e Eduardo Faria
Composição eletrônica: Susan Johnson
Reprodução em cores: GRB, Itália
Impresso e encadernado na China por Leo Paper Products
SUMÁRIO
Capítulo Três
RAMOS DA
FILOSOFIA
Introdução 46
FILOSOFIA DA
religião 139
Deus existe? 140
O problema do mal 153
Fé e razão 157
Filosofia
política 161
O ideal liberal 162
O bem comum 172
FILOSOFIA DA
ciência 179
O problema da
indução 180
Falsificacionismo 186
Capítulo Quatro
KIT DE
FERRAMENTAS
DA FILOSOFIA
Introdução 192
Argumentação 194
Falácias 198
Ferramentas de
pensamento 212
Capítulo Cinco
QUEM É QUEM
NA FILOSOFIA
Introdução 228
Quem é quem 230
Índice 346
Agradecimentos 351
filosofia
moral 101
O que eu devo fazer? 102
Então, o que é
moralidade? 112
METAFÍSICA 75
Platão e as idéias 76
Dependência da mente 82
CONHECIMENTO 49
Ceticismo 50
O que é conhecimento? 58
Razão e
experiência 66
Filosofia
DA MENTE 123
O enigma
da consciência 124
Poderia uma máquina pensar? 132
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Algumas das questões mais estimulantes, enigmáticas e importantes já
formuladas são filosóficas. Elas podem desafiar nossas crenças mais
fundamentais. Este capítulo pergunta: o que são questões filosóficas e
como os filósofos tentam respondê-las?
A filosofia é por vezes rejeitada como
uma disciplina com “a cabeça nas nuvens”,
sem relevância para a vida cotidiana.
A verdade é que ela pode ser, e com
muita freqüência é, de fato muito relevante.
Embora talvez sem o perceber, todos
temos crenças filosóficas. Tenho certeza,
p.ex., de que você, como eu, supõe que o
passado é um guia razoavelmente confiável
para o futuro. Essa é uma crença
filosófica. Podemos acreditar que Deus
existe. Ou podemos acreditar que não.
Essas também são crenças filosóficas.
Todos nós temos crenças filosóficas
Alguns crêem que temos almas imortais,
enquanto outros supõem que somos seres
puramente materiais. Muitos acreditam
que as coisas são moralmente certas ou
erradas independentemente do que possamos
supor, enquanto outros afirmam que
certo e errado são uma questão de preferência
subjetiva. Cremos que o mundo
que vemos à nossa volta é real e que existe
mesmo quando não o observamos.
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􀀑􀀔 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
􀀰􀀴􀀁􀀱􀀳􀀪􀀮􀀦􀀪􀀳􀀰􀀴􀀁􀀮􀀰􀀥􀀦􀀳􀀯􀀰􀀴
Finda a Idade Média, um espírito de renascimento intelectual e artístico
floresceu na Europa. Nesse período de inovação e descoberta,
surgiu uma nova cepa de pensadores que contestou as idéias medievais
ortodoxas sobre a ordenação do Universo e da sociedade.
O Renascimento representou a
emergência de um novo humanismo nas
artes e de um espírito revigorado de
descoberta nas ciências.
Começou na Itália em
meados do séc.XIV e
espalhou-se rapidamente
pelo resto da Europa.
Esse período de
crescimento e inovação
tinha como pano de
fundo mudanças sociais
e econômicas radicais,
decorrentes da rápida
expansão das cidades.
Enquanto as cidades
cresciam, a economia
agrícola se desenvolvia
em resposta à
maior demanda, e
novas tecnologias ajudavam
a aumentar a
produtividade. Isso se
deu ao lado do movimento
de privatização da terra anteriormente
de uso comunal, expulsando camponeses
e servos de suas terras em
direção à cidade. O sistema feudal dava
lugar ao capitalismo à medida que uma
nova classe de comerciantes ricos emergia.
Textos latinos e gregos da Antigüidade
também estavam se tornando mais
disponíveis, e muitos pensadores da
O humanismo e a ascensão da ciência
época descobriram uma herança
alternativa à tradição aristotélica e
platônica que havia dominado a vida
intelectual por tanto
tempo. Através dos
elegantes versos latinos
de Lucrécio e Cícero,
as filosofias pagãs do
estoicismo e epicurismo
foram trazidas de volta
à vida.
􀀯􀀰􀀷􀀢􀀁􀀤􀀪􀂳􀀯􀀤􀀪􀀢
Os pensadores do
Renascimento
interessavam-se por
alquimia e ocultismo,
mas também pela
ciência, e o fim da era
escolástica (p.32-3) foi
precipitado por uma
maior tendência dos
cientistas da época a
questionar teorias sobre
o mundo – com as quais a Igreja tinha,
com freqüência, um forte compromisso.
Um cortesão inglês, Francis Bacon
(1561-1626), propôs uma nova abordagem
ao esforço científico, que ficou
conhecida como o método da indução
(p.180-5). Ele aconselhou os cientistas a
começarem com observações do mundo,
usando-as como base para produzir
􀀓􀀔 A HISTÓRIA DA FILOSOFIA
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A questão que se encontra no cerne do
“argumento cosmológico” em prol da
existência de Deus é “Por que algo existe
– por que algo e não nada?” Segundo o
argumento, a menos que Deus exista, a
pergunta é irrespondível.
Uma versão famosa do argumento,
conhecida como o argumento Kalam,
indaga sobre causas. Sobre tudo o que
existe e que teve um começo, podemos
perguntar o que o fez existir. Nossos pais
são a causa imediata de cada um de nós.
Mas o que os causou? Recuando no
tempo, chegamos ao início do Universo,
há cerca de 13 bilhões de anos (dizem os
cientistas). Mas o que causou o Universo?
Algo não pode surgir do nada.
Precisamos, ao que parece, de uma causa
que não tenha ela mesma nenhuma
causa: só Deus satisfaz essa exigência.
INÍCIOS E CAUSAS
O argumento Kalam supõe que todo
início tem uma causa, e que algo não
pode emergir do nada. Segundo David
Hume (p.290-1), não podemos saber a
O início de tudo
verdade de nenhuma dessas afirmações:
podemos apenas estabelecê-las pela
experiência. E embora nossa experiência
mostre que até agora tudo teve uma
causa, podemos aplicar esse princípio ao
início do Universo? Não podemos
responder a essa pergunta com nenhuma
certeza, porque não temos experiência
bastante de inícios de universo!
Ademais, o início do Universo não foi
um evento como os que ocorrem dentro
dele. Não teve lugar no espaço ou no
tempo, já que ambos surgiram junto com
o Universo. Assim, talvez não possamos
aplicar o que sabemos sobre inícios a
esse caso. Como disse Bertrand Russell
(p.322-3): “O Universo simplesmente está
aí, e isso é tudo.”
Poderia este Universo ter sido
causado por um universo anterior (ou
um outro), e assim por diante, infinitamente?
Assim, em vez de ver o início do
Universo como um ato criativo de Deus,
podemos concluir que há apenas uma
regressão infinita (p.213) de causas. Algo
sempre existiu.
􀀑􀀔􀀒 FILOSOFIA DA RELIGIÃO
FALÁCIAS 􀀒􀀐􀀓
􀀮􀀢􀀪􀀴􀀁􀀥􀀰􀀁􀀲􀀶􀀦􀀁􀀰􀀶􀀏􀀏􀀏􀀁􀀰􀀶􀀏􀀏􀀏
Aqui está um raciocínio perfeitamente aceitável. Ou
se tem um brevê, ou não se está autorizado a pilotar
aviões. João não tem brevê, portanto não pode
pilotar aviões. O seguinte raciocínio, porém, não é
aceitável: as pessoas têm cabelo ou louro, ou preto.
Não tenho cabelo preto, portanto sou louro. A falha
aqui é óbvia: a primeira premissa do raciocínio é
falsa, porque podemos ter cabelo de muitas cores
diferentes, não só louro e preto. Considere ainda a
declaração: “Ou fazemos uma caridade, ou saímos
de férias.” É um falso dilema se as duas opções não
forem mutuamente excludentes – isto é, se pudermos
de fato fazer ambas as coisas.
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Políticos por vezes usam falsos dilemas para tentar
nos forçar a tomar uma decisão quando, de fato, não
precisamos fazê-lo. No exemplo abaixo, pode não ser
verdade que Zenda planeja dominar o mundo.
Assim, a escolha que nos é apresentada é falsa. Mas
note que, mesmo que Zenda pretenda dominar o
mundo, a opção de algum tipo de solução diplomática
para o problema não está ali.
O seguinte raciocínio é comum: “Ou A ou B. Não A.
Logo B.” Mas às vezes nos deparamos com raciocínios
que insistem que temos apenas duas escolhas mutuamente exclusivas,
A ou B, quando de fato há uma gama mais
ampla de opções. São “falsos dilemas”.
O falso dilema
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Sócrates
469–399 a.C. Grécia
Sócrates nada escreveu e só podemos ter acesso a seus pensamentos
através dos escritos de seu discípulo Platão. Não
sabemos se são fiéis, mas é certo que Sócrates acreditava que
ninguém peca com conhecimento de causa, e que a reflexão
sobre a verdadeira natureza das virtudes morais é essencial à
boa vida.
Pouco sabemos sobre os detalhes da vida
de Sócrates. Nasceu em Atenas, filho de
um escultor e uma parteira. Quando
jovem, serviu no exército contra Esparta
na Guerra do Peloponeso, mas, fora isso,
sempre viveu em Atenas, onde se casou
e teve vários filhos. Sabemos mais sobre
o próprio homem: na batalha, mostrou
notável força e resistência físicas,
exibindo grande bravura, segundo todos
os relatos. A julgar pelas descrições,
tinha uma cara feia, lembrando um
buldogue, e era andrajoso. Ficava
parado por horas, aparentemente
perdido em pensamentos, e afirmava
ouvir uma voz interior divina que o
dissuadia de cursos de ação. Apesar
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dessas esquisitices, tinha grande senso de
humor, e sua graça e carisma atraíam a
devoção de muitos. Suas indagações
críticas, contudo, irritavam alguns
atenienses. Embora tenha sobrevivido à
era dos Trinta Tiranos, após a derrota
de Atenas por Esparta, apenas quatro
anos depois que a democracia foi
restabelecida, Sócrates foi levado a
julgamento e condenado à morte por
desrespeito aos deuses e por corromper
os jovens. Poderia ter fugido, mas
escolheu aceitar sua sentença e tomou
voluntariamente a cicuta que o matou.
Platão assistiu ao julgamento e se
sentiu inspirado a preservar sua
memória em diálogos.
􀀒􀀔􀀒 QUEM É QUEM NA FILOSOFIA
Sócrates interessava-se sobretudo pelas
questões morais que afetam nossas vidas,
como o que é justo, corajoso e bom.
Considerava que sua missão era expor a
ignorância dos outros quanto à verdadeira
natureza dessas virtudes e era
conhecido por constranger os sábios da
época ao revelar a confusão implícita em
seus pensamentos morais. Iniciava sua
abordagem fazendo a seus interlocutores
uma pergunta como “o que é coragem?”
ou “o que é amor?” e passava a examinar
as limitações das respostas. Buscava não
uma definição de dicionário, mas as naturezas
essenciais desses conceitos: em
IDÉIAS-CHAVE
VIDA E OBRA
SÓCRATES 􀀒􀀔􀀓
􀀶􀀥􀀲􀀀􀀴􀀡􀀭􀀢􀁢􀀭􀀀􀀄􀀘􀀄􀀴􀁐􀁅􀁘􀁮􀁓􀀄􀀌􀁐􀀎􀀒􀀔􀀔􀂯􀀗􀀍􀀄􀂈􀀄􀀱􀁱􀁘􀁓􀁈􀁓􀀄􀁈􀁉􀀄
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outras palavras, o que é que todos os atos
corajosos compartilham que os torna corajosos.
Nossa dificuldade em descobrir a
essência desses conceitos revelava, segundo
ele, a profunda ignorância em que
todos vivemos quanto ao que realmente
importa.
Para Sócrates, o relevante era o espírito
crítico, assim como o reconhecimento da
própria ignorância era o primeiro e decisivo
passo para o conhecimento. Somente
quando nos damos conta de que não
sabemos o que supúnhamos saber é que
iniciamos a busca para descobri-lo.
Sócrates não afirmava ensinar ele mesmo
esse conhecimento; seu talento residia em,
como uma parteira, ajudar os outros a dar
à luz o conhecimento inato que residia
em suas mentes.
O método para dar à luz idéias através
de perguntas e respostas é conhecido
como elenchus, ou dialética. Embora ele
próprio raramente propusesse respostas
definitivas, fica claro, por sua maneira de
indagar, que Sócrates possuía algumas
idéias substantivas sobre ética. A principal
era a tese de que a integridade moral é
sua própria recompensa. Ele dizia que
fazer o mal prejudica o perpetrador muito
mais do que aqueles a quem o mal é feito,
pois, embora infortúnios externos possam
nos ocorrer, a verdadeira boa vida consiste
em pureza da alma. Sócrates acreditava
que ninguém fazia intencionalmente
o que soubesse ser mal, e portanto que as
más ações devem ser resultado de ignorância.
Segue-se que o conhecimento da
virtude moral é do nosso maior interesse e
deveria ser nosso objetivo essencial, e que
expor a ignorância de outrem é fazer-lhe
um favor. Infelizmente o regime democrático
ateniense não viu as coisas dessa maneira
e Sócrates foi julgado e executado.


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