quarta-feira, 9 de junho de 2010

752 - INVASÕES BÁRBARAS



Wiki: Migrações dos povos bárbaros (1/2)

Na História da Europa, dá-se o nome de invasões bárbaras, ou período das migrações, ou a expressão alemã Völkerwanderung [fœlkervandəruŋ], à série de migrações de vários povos que ocorreu entre os anos 300 a 900 a partir da Europa Central e que se estenderia a todo o continente. A referência aos bárbaros, nome cunhado pelos gregos e que em grego antigo significava apenas estrangeiro, foi usada pelos Romanos para designar os povos que não partilhavam os seus costumes e cultura (nem a sua organização política),pode induzir alguns leitores, incorrectamente, na hipótese que as migrações implicaram violentos combates entre os migrantes e os povos invadidos. No entanto, a história provou que nem sempre assim foi, já que os romanos também eram chamados de "bárbaros" (estrangeiros) pelos gregos e os povos migrantes já coexistiam pacificamente com os cidadãos do Império nos anos que antecederam este período.



Migrações na Europa entre os séculos II e V: Visigodos (castanho); Vândalos (verde); Lombardos (azul); Godos (vermelho); Ostrogodos (castanho-claro); Anglos (amarelo); Hunos (preto).
Destacam-se, neste processo, os Godos (originários do sudeste europeu), os Vândalos e os Anglos (da Europa Central), entre outros povos germânicos e eslavos. Os motivos que despoletaram estas migrações em todo o continente são incertos: talvez como reacção às incursões dos Hunos, pressões populacionais ou alterações climáticas.

Os historiadores modernos dividem este movimento migracional em duas fases. Na primeira, de 300 a 500, assistiu-se a uma movimentação de povos maioritariamente germânicos por toda a Europa, colidindo, portanto, com as várias regiões ocupadas pelo Império Romano. Foram os Visigodos os primeiros a eclodir com o Império — na verdade, os Visigodos foram inicialmente contratados para ajudar na defesa das fronteiras do Império, mas mais tarde seriam responsáveis pela invasão da península Itálica; de imediato, seguiram-lhes os Ostrogodos, liderados por Teodorico.

Na segunda fase, entre os anos 500 e 700, assiste-se ao estabelecimento progressivo dos Eslavos na Europa do Leste, tornando-a predominantemente eslava, num movimento iniciado pela ocupação da região da actual República Checa.

Os Búlgaros eram estabelecidos em Europa pelo século II. No século IV parte deles migrou do Cáucaso do Norte a Arménia. Em 632 estabeleceram a Grande Bulgária (Η παλαιά μεγάλη Βουλγαρία nos crónicas romanas) no território entre o Cáucaso e o Danúbio. No século VII Búlgaros migraram também à Baviera, à Península Itálica, à Panónia e à Macedónia. Em 681, o Reino Búlgaro expandiu-se nos Balcãs ao sul de Danúbio, e no século IX era o berço do Eslavo Eclesiástico e alfabeto cirílico, que nos séculos subseqüentes foram espalhados aos estados europeus medievais tais como Rússia, Croácia, Sérvia, Valáquia, Moldávia, etc.

Já excluídos do período de migrações, mas ainda na Baixa Idade Média, formam-se ainda movimentos migratórios, nomeadamente o dos Magiares, para a Panónia, e, mais tarde, dos Turcos para a Anatólia e do Cáucaso (século XI), e ainda a expansão dos Vikings a partir da Escandinávia, ameaçando o recém-estabelecido Império Franco na Europa Central, por Carlos Magno. No século VIII os árabes tentaram invadir Europa do sudeste, mas foram derrotados por Khan Tervel de Bulgária e pelo imperador bizantino Leão III em 717, e desviaram sua expansão à Península Ibérica.

Índice:
1. Circunstâncias
2. Na Europa Ocidental
3. Repercussões
4. Legado
5. Notas
6. Ver também
7. Bibliografia
8. Ligações externas


1. Circunstâncias
Os limites do Império Romano no século IV, portanto já dividido em duas metades (Ocidente e Oriente), faziam fronteira com várias culturas não romanizadas: na África, os Berberes e as tribos do Sudão, a norte, desde a península escandinava em direcção ao mar Negro, na região além do Reno e o Danúbio, os Germanos, populações tipicamente nómadas. Estes povos foram genericamente designados pelos Romanos como povos bárbaros, numa clara alusão ao facto de não partilharem o mesmo nível civilizacional e costumes de Roma. No entanto, estes grupos já conheciam estes aspectos do Império e, inclusive, alguns transitavam livremente para dentro e fora das fronteiras. Várias tribos germanas se instalaram pacificamente no interior do Império, chegando mesmo a integrar o exército romano, quer como soldados quer como mercenários, contribuindo reciprocamente na defesa das fronteiras. Este fenómeno ganhou particular dimensão após a crise do terceiro século. Por volta do ano 400, 30 ou 50 por cento do exército romano era composto de mercenários germânicos. Sem outra saída, alguns grupos bárbaros foram alistados no exército de Roma como unidades inteiras para ajudar na defesa contra outros grupos. Isso foi muito popular durante as guerras civis do século IV, quando aspirantes ao trono romano precisavam levantar exércitos rapidamente. Essas unidades bárbaras mantinham seus próprios líderes e não tinham a lealdade e a disciplina das legiões.

Vivendo em solos pouco férteis, os Germanos dedicavam-se, sobretudo, ao pastoreio, embora, à data do contacto com os Romanos, já se dedicassem ao cultivo de cereais. As terras não cultivadas pertenciam à tribo, enquanto que as casas e mobiliário eram propriedade privada; as terras de cultivo eram sorteadas equitativamente de ano a ano entre as famílias, embora no século II este tipo de propriedade passasse a ser propriedade familiar, apenas alienável pelo consentimento de todos os membros da família. Organizavam-se politicamente através de um rei, escolhido de uma família particular (considerada de origem divina), embora a autoridade estivesse formalmente nas mãos de uma assembleia de homens livres e com idade suficiente para usar armas. Nos tempos de guerra, era eleito um general que detinha todo o poder. Por esta altura, os Germanos coexistiam pacificamente com o Império: os utensílios e moedas encontrados em túmulos germanos provam a existência de relações comerciais entre as duas civilizações, principalmente nas regiões entre o Elba e o Mediterrâneo, ao longo do vale do Reno, e pelo Vístula e mar Negro.

Durante o século III, os Germanos tomam contacto com o Cristianismo, provavelmente devido aos prisioneiros capadócios levados à região dos Godos. Com efeito, tem-se conhecimento de Ulfila representar, algures no século IV, o grande apóstolo deste povo. Através de Ulfila, os Godos aderem ao Cristianismo na sua forma ariana, considerada herética na altura. Porém, esta vertente cristã ir-se-ia difundir rapidamente entre os Germanos, Vândalos, Gépidas e Alamanos.

As relações entre bárbaros e romanos não se limitavam, contudo, à esfera comercial e cultural: o exército romano ia-se transformando num corpo profissional profusamente incorporado por mercenários que, sucessivamente, ia substiuindo as legiões e a aristocracia chegando mesmo a ingressar na família imperial — um filho de Teodósio II desposou a filha do vândalo Estilicão. A sucessiva falta de mão-de-obra no campo obrigava o Império a permitir a entrada destes povos, formando assim assentamentos caracterizados distintamente: os federados, ligados a Roma por um contrato, aos quais era permitida a preservação dos costumes, organização social e política, em troca da prestação de serviço militar. No decorrer do século IV estes tratados de federação aumentavam substancialmente, na tentativa de vencer a crise que se aproximava.

O progressivo desmembramento do Império, aliado ao incremento da corrupção e escassez de meios para controlar e fortificar as fronteiras, levaram à canalização do esforço defensivo para as regiões críticas do Império, como a própria capital. Como consequência, as fronteiras tornavam-se cada vez mais instáveis e, finalmente, devido à pressão dos Hunos oriundos de nordeste, as populações bárbaras adensaram a penetração no Império, na tentativa de manterem-se protegidas.

1. 1. A instabilidade de Roma
A estrutura administrativa do Império dependia fortemente dos tributos que impunha aos novos vencidos: além de uma forma de pagar as despesas da guerra, eram também impostos como medida de benevolência ou castigo pela resistência durante as conquistas. A paralisação das conquistas tinha igualmente paralisado o afluxo destes impostos (que iam diminuindo progressivamente). No século III, tinham já diminuído consideravelmente e no século seguinte já se haviam esgotado.

Na tentativa de contrapor a crise, é organizado um pesado sistema de impostos, e ditada uma lei que obrigava a hereditariedade das actividades exercidas, o que significa que as profissões eram herdadas pelos filhos do actual funcionário. Os filhos de soldados sucediam os pais nas fileiras, os colonos mantinham-se fixados ao solo que cultivavam. O êxodo urbano dos aristocratas, paralelamente à formação das castas, provocou o surgimento no Ocidente de senhorios rurais, as villae, que constituíram o principal quadro da vida económica e social da época, e antecederam o feudalismo.

No ano 395 o Império Romano é formalmente dividido duas partes: o Oriente, com as províncias mais ricas e populosas, e o Ocidente, em acelerada decadência. Por esta altura, alguns bárbaros coexistiam pacificamente no interior do Império; no entanto, no século V dá-se um afluxo exorbitante de povos em busca de protecção contra os Hunos que se mobilizavam em direcção à Europa latina.

2. Na Europa Ocidental
2. 1. Os Hunos


O Império Huno prolongava-se das estepes da Ásia Central até à Germânia (actual Alemanha), e do Danúbio ao mar Báltico.


Invasão da Itália pelos Hunos.


Encontro de Átila com a Papa Leão I.
Segundos alguns cronistas chineses, os Hiong-nu (Hunos) seriam povos nómadas que constituíam uma ameaça constante ao Império Chinês. Foi para se proteger dos seus ataques que a dinastia Han (202 a.C.-220 d.C.) construiu a Grande Muralha. Ainda assim, a China do Norte foi devastada e, mais tarde, com a chegada dos novos invasores mongóis, os Hunos deslocaram-se para oeste, abrindo caminho pelas planícies russas derrotando os Alanos e os Sármatas e, por volta de 370, cruzaram o Volga e o Don, confrontando os germanos Ostrogodos, já sedentarizados. O escritor latino Amiano Marcelino descreve o pânico provocado nas regiões invadidas destes homens de pequena estatura e pele escura que, incapazes de se fixarem fosse onde fosse, se deslocavam constantemente, arrastando consigo as famílias, instaladas com todos os seus haveres em carroças.

Depois de se desembaraçar do seu irmão Bleda, o khan (rei) dos Hunos, Átila, inicia o governo das hordas hunas, a partir de 434. O historiador grego Prisco, que teve ocasião de o conhecer pessoalmente numa embaixada, deu destaque à simplicidade e sentido político deste homem, cujas lendas a respeito o caracterizam como barbaramente selvagem.

No século V, os Hunos abandonam o nomadismo, instalando-se nos territórios balcânicos, onde tomam conhecimento do avanço tecnológico o estilo de vida das civilizações helenizadas. Por esta altura, Honória, filha da imperatriz Gala Placídia, decide vingar-se do seu banimento pelo irmão Valentiniano III, enviando a Átila uma carta na qual solicita ajuda e que o Huno entende como uma proposta de casamento. Sabe-se que em 443 chegaram diante de Constantinopla e, em 448, penetram na Grécia até às Termópilas. Para conter os temíveis invasores, Teodósio II é obrigado a pagar-lhes um tributo anual.

No entanto, sem razão aparente, Átila volta-se para Ocidente e, em 451 atravessa o Reno, destrói Metz e Troyes. É por esta altura que surge a lenda da Santa Genoveva que incita os parisienses à resistência. Porém, Átila ignora Paris e sitia Orleães, cuja queda lhe permitiu entrar em contacto com o reino dos Visigodos. No entanto, é Aécio que trava o khan, e que, com a ajuda de Teodorico I, rei visigodo da Aquitânia, consegue unir os Romanos, Francos, Alanos e Burgúndios na batalha dos Campos Catalúnicos (Junho de 451), forçando os Hunos a uma retirada para a margem oposta do Reno.

Átila refez suas forças e, no ano seguinte, move-se em direcção à península Itálica, apoderando-se de Aquileia e devastando Milão, Feltre, Pádua e Pavia, cujas populações se refugiam nos Apeninos. O próprio imperador Valentiniano III abandona Ravenna para se refugiar em Roma. Observando a incapacidade do imperador romano de defender o território, o Papa Leão I confrontou pessoalmente Átila em Mântua numa conversa cujo teor nunca foi descrito, logrando fazê-lo desistir de invadir a cidade em troca de um tributo considerável. Muitos atribuíram o fato de Roma ter sido poupada à intercessão milagrosa do Papa Leão I. Ao que parece, o medo da peste, as superstições de Átila e um compromisso com o imperador Valentiniano III livraram a Roma do saque. Átila morreria a 455, antecipando o colapso do império huno.

Em 463 chegaram à península itálica os Daneses, de seguida os Hérulos e, finalmente, os Ostrogodos liderados por Odoacro (com batalhas em Isonzo e em Verona). Ressalva-se também uma deslocação dos Francos em 594 para o norte de Itália, com violentos confrontos.

2. 2. Ostrogodos


Mapa do reino Ostrogodo no seu auge, sob Teodorico.
Ver artigo principal: [[Ostrogodos]]

Derrotados pelos Hunos, parte dos Ostrogodos conseguiu fugir para oeste, aliando-se aos Visigodos, enquanto que a restante passou a integrar, tal como os Alanos e Sármatas, a poderosa cavalaria huna. Também os Visigodos seriam derrotados pelos Hunos e, sem escapatória, pediram asilo nas terras do Império Romano, que seria consentido pelo imperador Valente. Dava-se a entrada de todo um povo ameaçado pelos hunos, como prelúdio para as grandes invasões. A penetração foi pacífica, porém os romanos passaram a explorar, de forma sórdida, os visigodos. Estes se rebelaram e surpreendentemente venceram os romanos na Batalha de Adrianópolis (378).

O Imperador do Ocidente, Graciano, concedeu terras aos visigodos, adotando uma política amigável que deu certo, até por volta de 406, quando a Itália foi invadida pelos suevos, vândalos e burgúndios.

A 482, Teodorico, rei dos Ostrogodos, conseguia fixá-los na Mésia, província situada ao norte da península balcânica.

2. 3. Burgúndios
Ver artigo principal: [[Burgúndios]]

Estas movimentações seriam imitadas por diversos outros povos, dos quais se destacam os Burgúndios, cujos domínios na margem esquerda do Reno seriam destruídos pelos Hunos em 437, sendo obrigados a deslocar-se para oeste, na região do alto vale do Ródano, entre Lyon e os Alpes. O rei Gondicário e a maior parte dos seus guerreiros foram chacinados de forma atroz; pensa-se que este facto estará na origem provável dos poemas heróicos dedicados à morte dos reis burgúndios, cujas reminiscências se encontram nos Edas nórdicos. Combinados com a lenda de um herói mítico, Siegfried, os Edas deram origem, no século III, ao Nibelungenlied (Canção dos Nibelungos) e nos quais, já no século XIX, Richard Wagner se inspirou para um ciclo de quatro óperas, O Anel do Nibelungo.

Nos finais do século V, o reino burgúndio estendia-se da actual Borgonha ao baixo vale do Ródano e das Cévennes à Suíça Ocidental. Em 532 foram finalmente submetidos pelos Francos, e o seu território anexado à Nêustria.

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