segunda-feira, 14 de junho de 2010

1108 - ORIGEM DAS UNIVERSIDADES

Segunda-feira, 14 de junho de 2010 - 5h42:19








PROJETO FAZ CONEXÃO DOS SABERES POPULAR E UNIVERSITÁRIO



Por: * Fabiana Oliveira, do Mobilizadores COEP (www.mobilizadores.org.br) 23/3/2009
Foto: reprodução



Rede Mobilizadores COEP promove, de 23 a 27 de março, fórum on-line sobre o projeto Conexão de Saberes, tendo como convidado Francisco Marcelo
Promover o diálogo entre a universidade e as comunidades populares é o principal objetivo do Conexões de Saberes, programa desenvolvido em parceria pelo Observatório de Favelas e o Ministério da Educação, em 33 Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). O programa reúne dois mil bolsistas, contemplando mais de 20 mil pessoas dentro e fora das universidades, como conta o membro da coordenação executiva nacional do Conexões, Francisco Marcelo.

Como parte do trabalho acadêmico, os bolsistas atuam nas comunidades fazendo diagnósticos sociais, avaliação de políticas públicas e propondo ações afirmativas de acesso e permanência de estudantes de origem popular nas universidades federais.

Mobilizadores COEP - Como surgiu o Conexões de Saberes?

Francisco Marcelo - A Rede de Universitários de Espaços Populares (Ruep), programa idealizado em 2003 pelo Observatório de Favelas, foi a referência para a criação, no final de 2004, do projeto Conexões de Saberes. O Conexões percorreu, assim, o caminho inverso da maioria das ações nessa área no país. Da sociedade, ele chegou à universidade, e da universidade, ao Estado.

A Ruep foi implementada em 2004 pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), com financiamento do Programa de Extensão Universitária do Ministério da Educação. A Ruep criou nas universidades uma articulação entre estudantes oriundos de comunidades populares com o objetivo de realizar uma avaliação regular das políticas públicas e também formar lideranças com perfil técnico.

Mobilizadores COEP - Quais os objetivos do Conexões de Saberes?

Francisco Marcelo - O Conexões de Saberes é um programa que visa garantir a permanência de Estudantes Universitários de Origem Popular (EUOPs) no ensino superior, promovendo um diálogo entre a universidade e as comunidades populares. Coordenado nacionalmente pelo Observatório de Favelas e o Ministério da Educação, tem dois eixos fundamentais. O primeiro deles é fortalecer os vínculos entre as instituições acadêmicas e os espaços populares. O outro é contribuir para uma permanência qualificada dos universitários de origem popular nos cursos de graduação, ressaltando a perspectiva de eles continuarem a sua trajetória acadêmica em cursos de pós-graduação. Visa também à valorização do saber popular por meio da conexão com o saber acadêmico e contribuir para uma melhor formação desses estudantes para que possam vir a se tornar novas lideranças comunitárias nas suas comunidades de origem. Desta forma, ele vai além de uma simples proposta de assistência estudantil, sugere uma nova forma pedagógica universitária, onde o saber popular e o saber acadêmico dialoguem de forma horizontal. O programa recebeu o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2005 na categoria Educação.

Mobilizadores COEP - De que forma o projeto é desenvolvido?

Francisco Marcelo - O Conexões de Saberes paga bolsas de apoio acadêmico a estudantes oriundos de espaços populares para que eles protagonizem ações de extensão, ensino e pesquisa nessas comunidades. Assim, eles promovem um fluxo de saberes que visa integrar a universidade e essas localidades. Como parte do trabalho acadêmico nesses espaços, os bolsistas atuam na elaboração de diagnósticos sociais, avaliação de políticas públicas e na proposição de ações afirmativas de acesso e permanência dos estudantes de comunidades populares nas universidades federais.

Mobilizadores COEP - Como essas atividades são executadas?

Francisco Marcelo - Os estudantes recebem uma bolsa de R$ 300 para uma carga horária de 20 horas semanais. Parte dessas horas é direcionada para o trabalho realizado nas comunidades populares (eixo comunitário). É realizado um estudo de viabilidade em algumas comunidades (às vezes já atendidas pela universidade) e, depois de analisado pelo grupo, escolhe-se a melhor forma de intervenção, ou seja, qual projeto melhor se ajusta àquela realidade. Existe também o eixo político-institucional, no qual os bolsistas e coordenadores desenvolvem ações dentro da universidade com temas como ações afirmativas, pesquisas qualitativas, debates sobre assistência estudantil, relação universidade-comunidade, acesso e permanência, entre outros.

Mobilizadores COEP - Os bolsistas recebem algum tipo de formação, supervisão e avaliação?

Francisco Marcelo - Sim. Eles recebem uma formação no campo conceitual sobre ações afirmativas, acesso e permanência no ensino superior, relação universidade - comunidade, etc., e escrevem artigos sobre esses temas. Além disso, também participam de encontros nacionais, regionais e seminários. Os bolsistas recebem uma formação pedagógica, política e acadêmica; debatem sobre temas transversais as suas graduações. Também recebem formação como pesquisadores sociais, pois atuam nas pesquisas nacionais realizadas pelo Programa. Antes de entrarem nas comunidades, realizam, com a ajuda dos coordenadores, um estudo de viabilidade para oferecerem à comunidade uma ação que realmente trará algum impacto para a vida daquelas pessoas.

Mobilizadores COEP - O que vem sendo desenvolvido nas comunidades?

Francisco Marcelo - Bibliotecas comunitárias; pré-vestibulares populares; resgate da memória local; aulas de apoio para estudantes da rede pública dos ensinos fundamental e médio; trabalhos no campo da cultura, formando jovens multiplicadores; cursos para jovens na área de saúde e prevenção de DST e Aids; oficinas de geração de emprego e renda; artesanato; reeducação alimentar; e reaproveitamento de alimentos, entre outros. São inúmeras atividades. É importante salientar que, direta e indiretamente, o Programa atinge hoje mais de 20 mil pessoas e em muitas Instituições Federais de Ensino Superior é o principal ou até mesmo o único programa de permanência para Estudantes de Origem Popular. A troca de fazeres e saberes é a marca desse programa que procura conjugar o saber popular com o saber acadêmico.

Mobilizadores COEP - E nas universidades?

Francisco Marcelo - Nas universidades, o Programa, por meio de ações como seminários, suscita o debate sobre o acesso e permanência de estudantes de origem popular no ensino superior. Além disso, tem o importante papel de denunciar a invisibilidade sofrida por esses estudantes. Através da valorização do saber popular, transmitido especialmente por estes estudantes, é possível permear os debates da sala de aula com questões do nosso dia-a-dia e, assim, construir uma nova forma de fazer, de pensar uma pedagogia genuinamente brasileira, vinda da classe trabalhadora.

Mobilizadores COEP - O conhecimento gerado nas comunidades é utilizado nas universidades? De que forma?

Francisco Marcelo - Sim. Um exemplo disso é a Universidade Federal do Pará: a pesquisa realizada com os calouros de 2006 revelou o perfil dos estudantes que ingressam naquela universidade, levando o Conselho Universitário a votar pela adoção de políticas de cotas para negros, indígenas e estudantes de escolas públicas. Uma vitória! Em outras IFES, o Programa foi ampliado com recursos da própria universidade.

Mobilizadores COEP - Que tipo de conteúdo é produzido? As publicações e produções do Conexões de Saberes estão disponíveis?

Francisco Marcelo - De 2005 a 2007, realizamos três grandes pesquisas com mais de 32 mil calouros em 32 IFES: a primeira foi "Universidade Pública: (Re)conhecendo diferenças", realizada de 2005 a 2006; a segunda, também feita entre 2005 a 2006, foi "Perfil Sociocultural dos Bolsistas do Programa Conexões de Saberes"; e a terceira, "Políticas Públicas e Ações Afirmativas no Brasil: um estudo sobre ingresso e permanência de alunos de origem popular na universidade pública", realizamos em 2007.

Em 2006, também foram lançados 14 livros da Coleção Caminhadas (relato dos bolsistas sobre sua trajetória até a chegada a universidade) e quatro livros da Coleção Grandes temas, com artigos produzidos pelos próprios bolsistas com orientação de professores. Esse ano, serão mais 19 livros da Coleção Caminhadas e cinco da Coleção Grandes Temas. As publicações são distribuídas em todas as IFES e ficam disponibilizadas nas bibliotecas universitárias. No Observatório de Favelas também é possível ter acesso às publicações.

*Criada, em 2003, pelo COEP - Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida, a Rede Mobilizadores COEP reúne pessoas, do Brasil e do exterior, que atuam ou desejam atuar na área social. Os participantes da Rede interagem e aprimoram conhecimentos e práticas na área social por meio do site www.mobilizadores.org.br/coep


Imprimir Informações
Enviar por e-mail






home | quem somos | fale conosco | adicione aos favoritos | instalar flash player

© Copyright 2003-2009, SENAC SÃO PAULO. Todos os direitos reservados Desenvolvimento: Zona Digital



COPYRIGHT: SENAC SÃO PAULO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contador de visitas